Quando falamos sobre parto e movimento, a fisioterapia pélvica pode ser uma grande aliada no preparo e na condução desse momento tão significativo. O parto, para mim, é uma combinação harmoniosa entre fisiologia, biomecânica e fatores emocionais. Cada um desses pilares contribui de maneira única para que o corpo funcione da melhor forma possível, permitindo que o bebê faça seu caminho para o mundo.
1. A Fisiologia do Parto
A fisiologia, sem dúvida, é o primeiro pilar crucial. O corpo da mulher é desenhado para o parto, e essa preparação começa muito antes das contrações. Todo o processo é orquestrado por uma complexa rede hormonal. O papel dos hormônios como a ocitocina, as prostaglandinas e as endorfinas, por exemplo, é fundamental para a progressão do trabalho de parto.
A ocitocina, o “hormônio do amor”, está intimamente ligada à capacidade do útero de se contrair ritmicamente, empurrando o bebê através do canal de parto. Isso não só desencadeia as contrações, mas também é essencial para a fase de expulsão. A ocitocina está profundamente conectada com as emoções, ou seja, quanto mais a mãe se sente amada, segura e apoiada, maior será a liberação desse hormônio. Por isso, eu sempre digo: criar um ambiente de apoio emocional é tão importante quanto a preparação física.
As prostaglandinas, por outro lado, são responsáveis por amadurecer o colo do útero, preparando-o para a dilatação. Esse processo é muitas vezes percebido nas últimas semanas de gestação, quando as contrações de treinamento, ou Braxton Hicks, começam a acontecer com mais frequência. Essas contrações preparam o útero e ajudam a suavizar e afinar o colo, preparando-o para o parto.
Outro aspecto fisiológico é a liberação de endorfinas, hormônios que ajudam a aliviar a dor naturalmente. Elas são a resposta do corpo ao desconforto, funcionando como um analgésico natural. Quando o ambiente é tranquilo, sem estresse, e a mulher pode se concentrar na respiração e nos movimentos, as endorfinas ajudam a suportar as intensas contrações.
2. Biomecânica e Movimento no Parto
Quando penso em biomecânica, vejo como o corpo é maravilhoso em sua capacidade de se ajustar ao trabalho de parto. Movimentar-se durante o parto não é apenas natural, mas essencial para facilitar o processo. As posições que uma mulher assume, a forma como se move, e como ela utiliza o próprio corpo influenciam diretamente no encaixe do bebê.
Uma das ideias que sempre gosto de passar é que o parto é movimento. Esse movimento não é algo que você precisa forçar ou se preocupar em “fazer corretamente”. O corpo sabe o que fazer, é um processo intuitivo, instintivo. O importante é estar conectada com o próprio corpo, reconhecendo os sinais que ele envia. Essa conexão, que pode ser desenvolvida durante a gravidez com a ajuda da fisioterapia pélvica, facilita no dia do parto.
Movimentos Pélvicos Importantes
Vou explicar como certos movimentos pélvicos ajudam a criar mais espaço para o bebê. Para isso, costumo demonstrar os principais pontos da pelve: cristas ilíacas, cóccix e ísquios. Ao entender onde estão esses pontos, podemos explorar os movimentos de retroversão e anteversão da pelve, que são cruciais para o parto.
Imagine que você está em pé ou deitada, e eu te peço para inclinar a pelve para frente e para trás. Isso é a retroversão e anteversão pélvica. Esses movimentos ajudam a abrir o espaço no topo e no fundo da pelve. Durante o trabalho de parto, dependendo de onde o bebê está localizado, podemos usar esses movimentos para facilitar seu progresso.
Outro movimento importante é a rotação externa e interna do quadril. Quando a pelve está em rotação externa, a parte superior da pelve se abre. Já a rotação interna do quadril facilita a abertura da parte inferior da pelve, essencial na fase final do parto.
Estreitos Pélvicos no Trabalho de Parto
Durante o trabalho de parto, o bebê atravessa três estreitos da pelve: o estreito superior, o médio e o inferior. Esses estreitos representam os diferentes estágios da descida do bebê. E a fisioterapia pélvica ensina como usar movimentos e posturas para abrir esses espaços no momento certo.
O estreito superior é o primeiro a se abrir, facilitando a entrada do bebê na pelve. Durante essa fase, movimentos que promovem a contranutação da pelve, como inclinar-se para frente, são benéficos. O sacro se move para dentro, criando mais espaço na parte superior da pelve.
Depois, o bebê atravessa o estreito médio, situado entre as espinhas isquiáticas. Nesse ponto, a pelve faz um movimento de nutação, que é quando o sacro se move para trás, e a rotação interna dos quadris ajuda o bebê a se posicionar adequadamente.
Por fim, o estreito inferior, que é o último obstáculo antes da saída do bebê. Aqui, manter a pelve em rotação interna ou em posição neutra ajuda a abrir mais os ísquios, facilitando a passagem do bebê.
Fases do Trabalho de Parto e a Fisioterapia Pélvica
Durante o trabalho de parto, o corpo da mulher passa por diferentes fases, e cada uma delas pode ser auxiliada com movimentos adequados e apoio emocional. Existem duas principais fases do trabalho de parto: a fase latente e a fase ativa.
Fase Latente do Trabalho de Parto
Na fase latente, as contrações são mais espaçadas e irregulares. Aqui, eu incentivo que a gestante intercale momentos de movimento com descanso. Dependendo da posição do bebê e de sua altura, determinados movimentos podem ser mais eficazes. Por exemplo, se o bebê ainda está alto, pode ser necessário trabalhar na rotação externa dos quadris e no encaixe pélvico. Durante essa fase, a fisioterapia pélvica ajuda a realizar exercícios de mobilidade e alongamento para manter a pelve flexível.
Uma dica valiosa que gosto de compartilhar é sobre as pausas nas contrações. Quando elas ocorrem, a mulher pode fazer exercícios leves, alongamentos ou caminhar. Porém, quando a contração começa, é hora de parar, respirar profundamente e buscar uma posição confortável. Esse ritmo entre movimento e descanso permite que o corpo trabalhe em harmonia com o processo natural do parto.
Posições para o Trabalho de Parto
As posições no trabalho de parto são extremamente importantes e devem ser adaptadas conforme a necessidade da mulher e do bebê. Não existe uma posição única que funcione para todas, por isso gosto de incentivar a gestante a explorar diferentes opções. Podemos trabalhar com posições deitada, sentada, de cócoras, ajoelhada ou em pé. A ideia é encontrar uma postura que permita ao corpo se mover de maneira eficaz, ajudando o bebê a descer e facilitando as contrações.
Fase Ativa do Trabalho de Parto
A fase ativa é quando as contrações se tornam mais rítmicas e intensas. Nessa etapa, o movimento do corpo e da pelve assume ainda mais importância. A inclinação do corpo, a postura e os movimentos devem ser utilizados estrategicamente para facilitar a descida do bebê.
Durante a fase ativa, é essencial visualizar a pelve em três dimensões. O bebê está fazendo seu caminho através dos três estreitos que mencionei anteriormente, e a cada etapa precisamos ajustar os movimentos para ajudar no seu progresso. Costumo ensinar a mover a pelve em diferentes direções e trabalhar com posições que utilizam a gravidade a favor, como se inclinar para frente durante as contrações ou ficar de cócoras.
3. O Fator Emocional no Parto
O fator emocional é o terceiro pilar fundamental, e muitas vezes é negligenciado. O estado emocional da mulher durante o trabalho de parto tem um impacto direto sobre o processo. Medo, tensão e estresse podem retardar o trabalho de parto, enquanto sentimentos de segurança, confiança e apoio podem acelerá-lo.
Como fisioterapeuta, minha abordagem é sempre voltada para criar um ambiente de apoio. Isso significa garantir que a mulher se sinta segura, compreendida e confiante no seu corpo
Déborah Corrêa
Crefito 285988